sexta-feira, maio 20, 2016

Galera nova atualização e digitalização dos croquis de Piraí do Sul, excelente trabalho que o Daniel Covatti realizou.







terça-feira, abril 19, 2016

Impeachment, nova via em Piraí do Sul

Neste domingo, eu, Ítalo, Alexandre, Murilo e o Pc abrimos mais uma via no setor Paraíso, fica no bloco das vias esportivas, a última a esquerda, o nome é impeachment, e a graduação é 7ºC.


quinta-feira, março 17, 2016

O vôo da águia

Após 22 horas de viagem interruptas estávamos mais uma vez no mundo das grandes paredes! Foram dias de discussões, troca de e-mails, fotos e  mensagens até estarmos ali com os binóculos nas mãos tentando achar a melhor linha naquele mar de granito. Quem nos conduziu até ali foi nosso amigo Roberto Telles, escalador local que gentilmente já tinha feito contato com a proprietária do sítio e nos levou até 30 minutos da base da parede.
Com a “pseudo” linha traçada era hora de descarregar o carro e montar nossa nova moradia. Enquanto o Ed  organizava os equipamentos, eu e o Val fomos montando a barraca, esticando uma lona, organizando as garrafas de água, comidas e deixando tudo ajeitado, pois o tempo não estava aquela beleza. Enquanto preparávamos o jantar, mortos de cansado pelas longas horas de estrada, discutíamos qual seria a melhor estratégia: entrar de mala e cuia com hallbags e portaledges ou ir conquistando, fixando cordas e descendo para o acampamento todos os dias. Ficamos um bom tempo ali indecisos, até optarmos por escalar o primeiro dia, ver a qualidade da rocha e qual seria a melhor forma de encarar esta parede.
Às 5 da manhã o despertador insiste em nos dizer que está na hora de começar, acordamos meio sem querer acordar, tomamos o café e às 6 da manhã já nos dirigíamos para o nosso destino com 3 mochilas cargueiras cheias de ferros, cordas e boas intenções. Após uns 40 minutos, dentre estes alguns perdidos por falta de trilha, estávamos na base da parede! Gritei ansioso, olhando ainda de longe que guiaria a 1ª cordada, mas só quando cheguei na base da fissura fui ver que aquilo virava uma chaminé, fenda de corpo, enfim algo meio estranho... me preparo, e com a caderinha carregada de friends saio negociado o início da nossa empreitada. Coloco uma peça e já estou dentro da fenda de corpo colocando o Batman para trabalhar, após muita força saio da fenda como se estivesse virando um teto, a rocha não é aquela maravilha e as lacas vão se soltando, alguns trechos de fenda podre, delicado, peças em buracos, mais a escalada flui e consigo terminar os 60 m iniciais.
Willian no final da 1ª cordada
Com a parada pronta o Val inicia a 2ª cordada, enquanto isso o Ed vem de expresso jumar trazendo uma cargueira de 70 L. A escalada fica mais delicada, mais lacas se soltando e a parada já é um campo minado, com uma chapa a uns 5 m da parada e passagens nada óbvias. O Val vai negociando com umas lacas meio soltas, meio podres, até montar num negativo e chegar uma fenda boa a qual o leva até um gigante off width, após muita luta, suor e algumas quedas o restante da cordada é um desfrute, enquanto ele se organiza pra montar a parada, somos pegos por uma tempestade, muita água, vento e em minutos a parede já tem até cachoeiras, arrumamos tudo e descemos para o acampamento.
Val no crux da 2ª cordada
Após este dia decidimos que devido as chaminés, fendas de corpo, alguns trechos de rochas podre, iríamos trabalhar com cordas fixas no lugar de entrar com portaledges, e que dessa forma poderíamos depois de conquistar, repetir os esticões para ver como ficaram, encadenar e capturar mais vídeos e fotos.
Novo dia e 4h30 da manhã já estamos de pé ajeitando as coisas e saindo antes do sol nascer. Jumareamos 120 m com as cargueiras para fazer a digestão do café da manhã e o Ed se ajeita pra começar o terceiro esticão. Estamos na base da chaminé, a mesma que se via do nosso acampamento, a rocha é sólida e os lances fáceis fazem o Ed ir sumindo do visual, e quando o Val chega a cordada já está quase acabando, grito que falta menos de 5 m e que prontamente me responde que vai fazer a parada num platô.
Mais tarde vimos que não era bem um platô, mas cabia metade dos pés e para minha tristeza o quarto esticão me pertence e a fenda sumiu, só o que consigo é ver uma placa lisa com cristais até onde posso enxergar. Saio em livre, volto pro artificial, bato proteções, passo magnésio, coloco o estribo, como sofro nessas aderências! E a partir daí ainda surge uma águia chilena, que de vez em quando dá uns rasantes quase me matando do coração, consigo passar a parte mais vertical, e a partir daí consigo fazer render e só paro 60 m depois num platô gigante, este sim um 5 estrelas. Já estamos no fim da tarde, o Val vem rápido e inicia o quinto esticão em uma canaleta com uma fenda dentro, que alegria! A escalada vai rendendo, a fenda acaba, passa um lance delicado, ele bate uma chapa, e a águia sempre o acompanhando e dando rasantes, e ao escurecer bate a parada. Nesse meio tempo cogitamos com o Ed de bivacar nesse platô, mas as nuvens carregadas e os primeiros pingos nos fazem descer para o acampamento.
Ed no esticão da 6ª cordada
A noite é só alegria, após um bom dia de trabalho jantamos uma bela macarronada, um bom vinho espanhol e som de viola do nosso amigo Ed, tudo perfeito. Acordamos as 5 da manhã com uma fina garoa e o dia fechado, resolvemos assim nos dar um dia de folga para repor as energias, e o que escalador faz no dia de folga? Pegamos o carro e junto com o Roberto Telles fomos conhecer as montanhas da região, é pedra que não acaba mais! E após um longo dia voltamos recarregados e decididos em acabar o trabalho, com a idéia de bivacar no platô e só descer com a via terminada.
Acordamos as 4h30 e após um café rápido, mochilas prontas, rumamos mais uma vez pra parede. Após um longo jumareio estou com o Ed no final do quinto esticão, a serração toma conta de nós, e aquilo vira uma garoa e para minha alegria descubro que o Ed está com o meu anorak, como é bom se sentir aquecido novamente e enquanto o Val está chegando no final do quarto esticão com a cargueira a chuva já esta grossa, e eu e o Ed estamos rapelando pra se enfiar num buraco que existia a esquerda do platô. Quando chegamos o Val já esta com a casa montada: lona esticada no buraco e então nos amontoamos os três naquele buraco à 300m do chão, um olhando pra cara do outro. Digo que não vou descer pois não quero jumarear de novo, calculamos que temos comida pra dois dias, e tinha que ver a cara de triste do Val quando soube que eu e o Ed tiramos o pão, salame e queijo por causa do peso. Para minha alegria o celular resolve funcionar ali e consigo ver a previsão do tempo que diz que as 9h da manhã  só vai ficar nublado e a tarde teria sol, era umas 7 da manhã, será possível? Sim, era verdade: o tempo foi melhorando e o vento forte que começou soprar começou a secar a parede, aproveitamos pra comer e beber bem, e lá pelas 9h30 o Ed iniciava o sexto esticão, por agarras e às vezes por uma aresta da canaleta a sua esquerda, mesclando chapas e móveis, saindo uma cordada linda e estética, terminando 60 m depois num platô. Vamos para cima novamente, que chegou minha vez de guiar, me ajeito e entre sair por agarras reto para cima opto em pegar uma fenda diagonal a esquerda, fácil e com peças boas. Mas o que é bom dura pouco, começo sentir o cheiro do cume mas quem disse que ele iria se dar assim tão fácil? Novamente lá estou eu numa placa lisa de cristais, bailando com estribos, cliffs, fazendo lances em livre, pisando na chapa pra ficar mais alto... enfim vale tudo nessas horas. Por último bato uma chapa, saio em livre, domino uns caraguatás e a parede deita, foi só correr para o cume, grito para meus parceiros, bato a parada e é só esperar pra comemorarmos. Tiramos fotos, tomamos um suco, biscoitos, e resolvemos descer tentando encadenar as cordadas e fazer fotos e vídeos, pois ainda eram uma da tarde.
Rapelo com o Val, o Ed nos solta a corda e fica lá encima para filmar, então o Val reinicia aquela cordada que eu acabava de ter conquistado. Vai sem problemas pela fenda, entra nos cristais e consegue fazer tranquilamente todos os lances em livre, encadenando assim essa cordada.
Agora é a vez do Ed tentar encadenar a penúltima cordada e eu ficar filmando, também libero a corda para eles e fico só de cima observando o balé do Ed entre bromélias e pequenos cristais, escala com maestria e encadena a cordada com um esticão no final que até eu fico tenso. Uhuh, mais uma! E assim vamos descendo, levando todo nosso material de conquista e repetindo as cordadas, quando já a noitinha deixamos as duas cordadas iniciais para o outro dia. Chegamos acabados no acampamento às 20h porém mais felizes do que nunca, fizemos umas mini pizzas e tomamos um vinho pra comemorar.
Acordamos cansados por volta das 8h da manhã, e após um farto café, ficamos ali olhando a parede e esperando a boa vontade de ir lá fazer as duas cordadas  iniciais. O dia estava lindo e quente e já sentíamos o cansaço dos dias anteriores, subimos por volta das 13 horas até a base, tomamos um suco e entramos num consenso do que levar pra repetir as duas cordadas. Me arrumei e saí com 2 jogos de camalots do .3 ao 6, literalmente pronto pra guerra, o calor tava de matar, fritando os pés, suando sem parar, e lá fui eu negociando aquela cordada novamente e já sabendo os venenos que iria passar. Isso é bom e ruim, acho que foi quase uma hora pra tentar encadenar essa cordada, enquanto do lado o Ed só assistia e filmava minha gemeção, cheguei na parada sem nada, não sobrou nem o cordelete e o mosquete de rosca, que larguei em algum bico para refrescar a mente, ufa!Minha parte estava pronta. O Val veio limpando e se arrumando pra derradeira cordada, só faltava aquela pra cadena, e como o Val mesmo disse já tenso, não tava com vontade de repetir mais de uma vez.
Saiu bailando, carregado até os dentes enquanto eu e o Ed só assistíamos na arquibancada, passou bem a primeira parte, protegeu na base da fenda boa e esticou até a base do off width, até eu e o Ed já estávamos tenso, protegeu e começou o show: geme daqui, reclama dali, não consigo descansar, faz muita força e enfim passa extenuado a pior parte e literalmente sem forças se arrasta até o final da cordada já no por do sol. Enfim armamos os rapéis, limpamos tudo e descemos pela última vez da parede com a sensação de dever comprido. Descemos sem pressa pela trilha, só lembrando dos momentos, dos perrengues, então era só jantar, separar toda a tralha e pegar a estrada novamente, desta vez rumo a nossa casa.
Traçado da via e material utilizado
O nome da via deu-se pela majestosa e linda águia chilena que nos acompanhou nos dias de parede e que por muitas vezes nos assustou com seus vôos rasantes e intimadores.
Fica aqui o meu agradecimento ao Roberto Telles, por sua amizade, hospitalidade e apoio na cidade.
Águia Chilena
Agradeço especialmente a Conquista Montanhismo por todo o patrocínio de equipamentos,  roupas técnicas e materiais utilizados na nossa empreitada, viabilizando assim nossa viagem até a cidade de Afonso Cláudio no Espírito Santo.

Bons ventos, e boas escaladas a todos

Willian Lacerda.